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terça-feira, 7 de julho de 2009


Os Aportes do meu Destino



Primeiro fui tentado a mudar o título. Aportar está ligado a navio. Daí me senti grande, grande para insistir em manter o título.
-Resolvi que, o título está bom!
Para aportar minha embarcação quer o tamanho que seja tenho que primeiro te-la.
E tendo é, preciso conhecê-la. Não se conduz o que não conhece. Um cego conduz um outro porque conhece.
Minha embarcação não é uma embarcação que nela embarquei e, com a cara de espanto vou resvalando nas árvores e arbustos das margens de hora rios, hora lago, hora regatos.
Tenho-a por completo. O exterior. O interior. O passado, que sou capaz de nele mergulhar.
Conduzo tranqüilo. Tranqüilo? Não tanto, pois sofro solavancos dos bancos e dos arrecifes.
Às vezes encalho, mas encalhar é comum nesta época dos anos. Com os cabelos poucos que me restam consigo encalhar.
A escassez das águas não me assustam. Afinal águas são águas. Busco delas não depender. Não dependo do vento que me parece mais amigo. Quero-o para ele açoitar as velas. Para maior velocidade. Mudar a direção e encarar o outro veio dágua que virá.
Posso estar em alto mar. Agora aumenta o risco da trilha anterior.
Toquei no último trecho como se toca numa trilha. Limpei os arbustos, os galhos os espinhos, as valas me parecem cruéis. Nelas pensei que fosse atravessar e, não pude. Dei meia volta. Desfiz dos víveres que angariei pelo caminho. Desfiz dos bens que entendia seriam graúdos e inseparáveis, para aliviar a embarcação. Tratei-os o tempo todo como meus maiores troféus. Foram meus únicos troféus, nunca tive outros. Nem tesouros tive. Nada foi meu pelo caminho que até aquí segui.
A meia volta me causara muitos danos. Hoje estou quase insano, mais e daí? Insano vive superando a dor. Tolerando o insulto de não ser detido.
Por que eu não posso ter meu próprio por do sol, minha lua, minha rua, minha nua. Sua nudez não condiz com sua mudez. Só prá te lembrar. Eu vou aportar onde puder. Onde quiser. Com quem e como tiver.
Vou aportar.
Não pense que o que me resta é parar em algum lugar prá respirar.
Não quero respirar, quero amar.
Busco aportar em um lugar tranqüilo. Com o por do sol que seja pardo quando eu o assim quiser. Tem dia que eu não quero por do sol nenhum.
Quero aportar onde a lua seja simplesmente lua. As estrelas, a via Láctea sejam elas mesmas e, não precisam piscar prá mim.
Sei não temer mau tempo , não sofrer desalento e , se precisar sem rumo.Logo aprumo o leme e levanto ancora para zarpar mesmo sem direção sabida. O que importa é caminhar, trilhar, navegar, sonhar. Conhecer horizonte. Conhecer novos horizontes. Conhecer. E ponto.
Chegar ao destino mesmo desconhecido e, nele aportar.

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